domingo, 14 de outubro de 2012

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O Deus em garrafas!

"O que ouviste de mim na presença de numerosas testemunhas, transmite-o a pessoas de confiança, que sejam capazes de ensinar a outros." (2 Timóteo 2,2)

- Repita comigo, Senhor!
- Senhor!
- Hoje eu te peço...
- Hoje eu te peço...
- ... pela minha familia...
- ... pela minha familia...
- ... pelos meus filhos
- ... pelos meus filhos... peraí, eu não tenho filhos, seria uma profecia?

Esta é uma situação que já aconteceu comigo várias vezes e é muito comum hoje em dia em grupos de oração, acampamentos, pregações, missas com oração para cura e libertação e tudo mais que envolva um momento de multidão.
O objetivo de quem o faz é dos melhores possível, ajudar as pessoas que muitas vezes não tem uma clara noção do ser cristão, (e portanto não se sentiriam aptas a orar) para que rezem. Esta prática do "repita comigo", é muito comum quando os pais e catequistas ensinam a criança a rezar orações vocais da tradição da Igreja, como o Pai Nossa e a Ave-Maria, e é válida também quando o pregador quer fazer uma oração que ele conhece mas não é tão famosa, como a Couraça de São Patrício por exemplo. Nestes casos, como se trata de orar junto uma oração de valor universal, e ensiná-la a outros, é mais do que válido.
Porém devemos saber que a oração nada mais é do que um diálogo da alma fiel com Jesus, e ela precisa acontecer com a maior sinceridade possível, mesmo quando é uma oração vocal previamente escrita por alguém ou da tradição da Igreja, a pessoa que reza precisa atualizar a reza, passando da simples repetição, atualizando as palavras ali colocadas, estabelecendo então um diálogo, tornando suas as palavras da oração. Mas quando se trata de uma oração espontânea, ao conduzir uma oração é preciso que se deixe um espaço para que cada um converse com Jesus do seu jeito, mesmo que o que ele tenha a dizer para Jesus seja uma enorme e grande "poker face". Porém é o que ele tem de mais sincero para oferecer naquele momento, a Jesus, o mais íntimo de cada um de nós do que nós mesmos sabe disso e acolhe essa oração com sinceridade.
Desta maneira a pessoa começa a estabelecer um relacionamento com Deus, que vai atingir diretamente na sua maneira de fazer a sua oração pessoal, até mesmo as orações devocionais já feitas, ou a leitura da Sagrada Escritura, receberão um outro sabor.
Fazer uma oração que infantiliza as pessoas, terá como consequência o que eu chamo de "clientelismo eclesial". A pessoa passa a se servir de determinada comunidade, padre ou pregador, acreditando que eles tem a intimidade extraordinária e que Deus fala através dele (o que não deixa de ser verdade) mas a maior riqueza é a pessoa descobrir a voz de Deus que fala ao seu coração.
Deus se comunica com cada um de um jeito único e especial, e quando a gente nivela as pessoas por baixo estamos no caminho, impedindo que o Deus, que quer falar com a pessoa fale e se expresse. Não estaremos nós duvidando que Deus se comunica com qualquer ser humano? Ou seria eu mais santo e merecedor do que quem acabou de chegar? 
Precisamos estar atentos a estas tentações, porque não podemos infantilizar as pessoas, nem nos tornarmos fornecedores de Deus.
É como se estivéssemos abrindo uma indústria que vende ar engarrafado. O ar está aí conosco o tempo todo, de graça e em abundância, respiramos ininterruptamente, mas nem sempre nos damos conta, o mesmo se dá com o trato com Deus, Ele está com cada um o tempo todo em sua onipresença, mas nos limitamos a querer sentir a sua presença ou a deixar que ela esteja limitada a determinados locais e pessoas. Deixando assim de nos aprofundar em nossa fé, e de vivermos um processo de Educação na Fé, que levará cada um de nós a sermos capazes de ajudar outros, que serão capazes de ajudar outros.
Não esqueçamos é claro de que a vida em comunidade, é uma fonte de onde também jorra Deus, estar juntos na paróquia, celebrar juntos a eucaristia, presença real do ressuscitado, é vital para a vivência de uma vida cristã autentica, que não está focada mais no Deus que pode resolver meus problemas pessoais, mas no Deus com o qual eu cresço num relacionamento de amor constante, e que me abre para amar os demais. Mas também não posso deixar de dizer que estes momentos, terão muito mais sentido, se forem acompanhados de momentos de oração íntima, pessoal e solitária com Jesus. Diariamente. Aí sim viveremos uma vida comunitária que comunique Cristo, uma vida a partir de dentro.
Sendo assim, ore, frequente lugares, ouça pregadores renomados, ouça pregadores sem renome algum, busque estar em comunhão com a sua comunidade, mas tenha senso crítico e não deixe de se expor a Deus.
Portanto desengarrafemos a palavra de Deus, e deixemos de buscar as fontes de Deus engarrafado. Afinal mais que o ar, Ele está aí, nos recriando a todo momento com a sua misericórdia, e nos convidando a um relacionamento com Ele. Vai ficar bobeando?

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A asfixia nossa de cada dia

Já faz um tempo que eu assisti um episódio da sitcom "The New Adventures of Old Christine" (As novas aventuras da velha Chistine - tradução livre) série cancelada em 2010. Este sitcom conta a história de uma mulher recém-separada e suas peripécias para criar o seu filho, em meio a novos namorados e uma paixonite pelo ex-marido (não vou citar no momento nada a respeito de moral cristã e casamento).
No episódio citado, o ex-marido de Christine, Richard, começa a sair com uma mulher protestante, e o filho dela começa a frequentar a Igreja, a mãe do menino passa o episódio brava porque eles tinham concordado em não dar uma educação religiosa para o rapaz (também não irei comentar aqui sobre religiosidade e transmissão de valores). O problema é que a nova madrasta completamente confusa com as reações de Christine, resolve perguntar a ela o porque ela não quer ser seu filho envolvido com pessoas religiosas. Christine responde: "Porque gente de Igreja só gosta de gente de Igreja(!)". Após isto se segue um silêncio de concordância e a mulher muda se assunto.
E sabe qual a conclusão que eu cheguei: "Como eu gostaria que ela estivesse errada, mas...". Sim galera é a mais pura verdade, e a maior prova disso está nos nossos queridos e amados Grupos de Jovens!
Sim, eles enfeitam as nossas paróquias, movimentam, trazem alegria, são mão de obra barata pra qualquer quermesse, estão aí, existem e... existem. Ponto final. Não quero generalizar, mas fazer refletir: "não terão os nossos grupos de jovens se tornado verdadeiros guetos?" Muitos grupos que eu vejo por aí funcionam como se fossem um vórtice, um buraco negro, que engole tudo para si, e enxerga apenas a si mesmo, não se relacionam com outros grupos de jovens e em alguns casos piores, nem com a própria comunidade da qual participam, não se envolvem na vida da Igreja.
Não sei se todos sabem disso, mas o objetivo do grupo de jovens é morrer em mais ou menos três anos de existência, após este tempo o grupo deixa de existir na realidade. Mas você vai me dizer: meu grupo tem 4, 10, 15 anos. Sim a energia, o carisma (se podemos dizer assim), o horário de reunião, e até algumas cabeças ainda estão lá, mas o grupo é o mesmo de 2 anos e meio atrás? Não. E se acha que isso não quer dizer nada, bem, estude melhor sobre o que é ser grupo, ser comunidade cristã.
Enfim quando o grupo morre (para alguns de seus membros ao menos) consideramos que todo o processo de educação na fé aconteceu, sendo assim esse jovem deixa o grupo porque está atuante na sociedade ou na Igreja, mas me diga, quantos jovens que deixaram o seu grupo você ainda vê nas missas de Domingo?
E é isto que torna preocupante a situação, pois ser Igreja é um exercício diário, e um aprendizado que dura a vida toda, de qualquer leigo, religioso, sacerdote, bispo. E se nos nossos grupos não exercitamos sair de nós mesmos, romper os muros da sala de reunião, e depois romper os muros da Igreja, os jovens deixam de profetizar um jeito novo de viver e de ser, que está ali dentro do grupo, é lindo, é maravilhoso, todos que vivem querem que dure eternamente, mas nem todo mundo prova disso. E o que acontece com o grupo que se fecha, é morrer de asfixia. O sal fica com sal, o fermento fica com fermento, não dá sabor, e não faz crescer o Reino.
Bonito seria ver um grupo de jovens ir as ruas, aos orfanatos, as praças, levar e contagiar aos que estão ao redor com alegria, mas não como um gesto isolado e assistencialista, sim como um desejo de transformar a realidade do bairro, da escola, da cidade, da paróquia, unindo forças com o diferente.
Água limpa parada dá mosquito da dengue, mas se vira um rio de água viva vem ressuscitar todo o entorno, onde nascerão frondosas árvores, muitos frutos diferentes e novos, gerar vida, e a água viva dos nossos grupos só vai ser caudalosa de verdade quando houver troca de experiências, de descobertas, quando se aprende e se ensina, nessa imensa escola que é a vida! Transmitir a fé? Claro, mas transformá-la em atos!!!
Precisamos deixar de apenas falar no amor, mas viver o amor, amar de fato, e claro, não é simples, eu sozinho não posso fazer nada, mas com meu grupo, como o seu grupo, com o grupo da paróquia do outro lado da cidade, podemos amar mais, fazer algo mais concreto.
Sonho com esse dia, esse ano da graça, afinal sou um sonhador mesmo...

"O mundo lá sempre a rodar
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor,
Estrada de fazer o sonho acontecer" (Milton Nascimento)
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