sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A asfixia nossa de cada dia

Já faz um tempo que eu assisti um episódio da sitcom "The New Adventures of Old Christine" (As novas aventuras da velha Chistine - tradução livre) série cancelada em 2010. Este sitcom conta a história de uma mulher recém-separada e suas peripécias para criar o seu filho, em meio a novos namorados e uma paixonite pelo ex-marido (não vou citar no momento nada a respeito de moral cristã e casamento).
No episódio citado, o ex-marido de Christine, Richard, começa a sair com uma mulher protestante, e o filho dela começa a frequentar a Igreja, a mãe do menino passa o episódio brava porque eles tinham concordado em não dar uma educação religiosa para o rapaz (também não irei comentar aqui sobre religiosidade e transmissão de valores). O problema é que a nova madrasta completamente confusa com as reações de Christine, resolve perguntar a ela o porque ela não quer ser seu filho envolvido com pessoas religiosas. Christine responde: "Porque gente de Igreja só gosta de gente de Igreja(!)". Após isto se segue um silêncio de concordância e a mulher muda se assunto.
E sabe qual a conclusão que eu cheguei: "Como eu gostaria que ela estivesse errada, mas...". Sim galera é a mais pura verdade, e a maior prova disso está nos nossos queridos e amados Grupos de Jovens!
Sim, eles enfeitam as nossas paróquias, movimentam, trazem alegria, são mão de obra barata pra qualquer quermesse, estão aí, existem e... existem. Ponto final. Não quero generalizar, mas fazer refletir: "não terão os nossos grupos de jovens se tornado verdadeiros guetos?" Muitos grupos que eu vejo por aí funcionam como se fossem um vórtice, um buraco negro, que engole tudo para si, e enxerga apenas a si mesmo, não se relacionam com outros grupos de jovens e em alguns casos piores, nem com a própria comunidade da qual participam, não se envolvem na vida da Igreja.
Não sei se todos sabem disso, mas o objetivo do grupo de jovens é morrer em mais ou menos três anos de existência, após este tempo o grupo deixa de existir na realidade. Mas você vai me dizer: meu grupo tem 4, 10, 15 anos. Sim a energia, o carisma (se podemos dizer assim), o horário de reunião, e até algumas cabeças ainda estão lá, mas o grupo é o mesmo de 2 anos e meio atrás? Não. E se acha que isso não quer dizer nada, bem, estude melhor sobre o que é ser grupo, ser comunidade cristã.
Enfim quando o grupo morre (para alguns de seus membros ao menos) consideramos que todo o processo de educação na fé aconteceu, sendo assim esse jovem deixa o grupo porque está atuante na sociedade ou na Igreja, mas me diga, quantos jovens que deixaram o seu grupo você ainda vê nas missas de Domingo?
E é isto que torna preocupante a situação, pois ser Igreja é um exercício diário, e um aprendizado que dura a vida toda, de qualquer leigo, religioso, sacerdote, bispo. E se nos nossos grupos não exercitamos sair de nós mesmos, romper os muros da sala de reunião, e depois romper os muros da Igreja, os jovens deixam de profetizar um jeito novo de viver e de ser, que está ali dentro do grupo, é lindo, é maravilhoso, todos que vivem querem que dure eternamente, mas nem todo mundo prova disso. E o que acontece com o grupo que se fecha, é morrer de asfixia. O sal fica com sal, o fermento fica com fermento, não dá sabor, e não faz crescer o Reino.
Bonito seria ver um grupo de jovens ir as ruas, aos orfanatos, as praças, levar e contagiar aos que estão ao redor com alegria, mas não como um gesto isolado e assistencialista, sim como um desejo de transformar a realidade do bairro, da escola, da cidade, da paróquia, unindo forças com o diferente.
Água limpa parada dá mosquito da dengue, mas se vira um rio de água viva vem ressuscitar todo o entorno, onde nascerão frondosas árvores, muitos frutos diferentes e novos, gerar vida, e a água viva dos nossos grupos só vai ser caudalosa de verdade quando houver troca de experiências, de descobertas, quando se aprende e se ensina, nessa imensa escola que é a vida! Transmitir a fé? Claro, mas transformá-la em atos!!!
Precisamos deixar de apenas falar no amor, mas viver o amor, amar de fato, e claro, não é simples, eu sozinho não posso fazer nada, mas com meu grupo, como o seu grupo, com o grupo da paróquia do outro lado da cidade, podemos amar mais, fazer algo mais concreto.
Sonho com esse dia, esse ano da graça, afinal sou um sonhador mesmo...

"O mundo lá sempre a rodar
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor,
Estrada de fazer o sonho acontecer" (Milton Nascimento)
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